Velocidade,
Cheiros,
Ruído.
Onde pensaste tu viver?
Pensaste em ser feliz?
Lisboa das cores:
Do preto, do verde e do amarelo.
O cheiro nauseabundo das tuas ruas,
O mofo das tuas casas,
O estrume do que és:
Podre, só, cinzenta.
Gentes fugindo das avarias,
Os gritos e as caras angustiadas,
E tu,
chuvosa e ventosa,
Rindo por entre as ondas poluídas do teu Tejo.
E eu sento-me aqui junto da tua ilustre estátua e olho pelo horizonte para a outra margem.
O teu olhar cego e vidrado,
Cor de cadáver e roupas molhadas.
Porque te putrificas tu nesta imundície inveterada?
Porque foges tu da insanidade?
Cais na graça da desgraça
Rindo-te do podre e envelhecido.
Que pensaste tu por entre dedos,
Onde o mar passou-te pelas mãos
E escorreu-te pela cara.
E quando cai a noite vens tu em trapos
Com a pele suada e rugada,
Mendigando por um bocadinho de sol.
Não és mais do que uma criatura
Vil e reles
Por entre colinas
Acentuadas e desertificadas.
Os teus cabelos negros e oleosos
Varridos pelo vento gelado e pela poeira tóxica.
Os teus olhos castanhos trazem
a amargura do teu olhar.
Pensaste tu em ser rainha
E nem com o tremer de terra te abalaste.
Ficaste só, apenas só.
Sem comentários:
Enviar um comentário