quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Lisboa não tens mais encantos

Velocidade,
Cheiros,
Ruído.

Onde pensaste tu viver?

Pensaste em ser feliz?

Lisboa das cores:
Do preto, do verde e do amarelo.

O cheiro nauseabundo das tuas ruas,
O mofo das tuas casas,
O estrume do que és:
Podre,  só, cinzenta.

Gentes fugindo das avarias,
Os gritos e as caras angustiadas,
E tu,
chuvosa e ventosa,
Rindo por entre as ondas poluídas do teu Tejo.

E eu sento-me aqui junto da tua ilustre estátua e olho pelo horizonte para a outra margem.

O teu olhar cego e vidrado,
Cor de cadáver e roupas molhadas.

Porque te putrificas tu nesta imundície inveterada?

Porque foges tu da insanidade?

Cais na graça da desgraça
Rindo-te do podre e envelhecido.

Que pensaste tu por entre dedos,
Onde o mar passou-te pelas mãos
E escorreu-te pela cara.

E quando cai a noite vens tu em trapos
Com a pele suada e rugada,
Mendigando por um bocadinho de sol.

Não és mais do que uma criatura
Vil e reles
Por entre colinas
Acentuadas e desertificadas.

Os teus cabelos negros e oleosos
Varridos pelo vento gelado e pela poeira tóxica.

Os teus olhos castanhos trazem
 a amargura do teu olhar.

Pensaste tu em ser rainha
E nem com o tremer de terra te abalaste.

Ficaste só, apenas só.