terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Vagabundo de Rua




Ali estava eu parado.
Não sei que destino tinha,
E que caminho seguir.
Parado na esquina,
Fecho-me na tristeza que me assola dia e noite.
Se bem que as noites trazem-me nostalgia
E esperança de um dia melhor.
Na rua movimentada,
Gente passava incessantemente,
Sem parar.
Todos desviam o olhar,
Como vergonha tivessem.
Vergonha tenho eu!
Sujo, amargurado e com fome!
Nem um tostão me deixaram...
Os poucos que me olham
Vejo o vazio no seu olhar,
De quem olha mas não vê,
Ou não quer ver,
Ou talvez porque passa pelo mesmo que eu,
Ou pelo menos lá no fundo sente pena.
Poucos são os que ajudam,
Aqueles que nos olham de coração apertado,
Com medo que cheguem ao dia que sejam eles,
A pedir o pão de cada dia.
A verdade é que a maior parte que ignora...
Simplesmente ignora-nos...
Como se de um cão sarnento me tratasse.
Apenas peço um pouco de pão e água para me alimentar.
Já não basta o frio,
A minha névoa no olhar,
E a esperança perdida.
Resta-me esperar pela desgraça iminente:
Do dia de amanhã,
E o de outro,
E outro,
Outro,
E o final.
Onde andam os dias quentes?
Os dias frios em frente à lareira?
Onde anda o meu Natal de mesa farta?
E o meu guarda-fato cheio de roupa que não uso?
Que foi feito dos excessos,
De quando ias às compras,  e comprava mais do que precisava?
Onde está a caridade que nos ensinavam antes da catequese?
Onde está o ajudar e respeitar o próximo?
Neste beco imundo,
Escuro e apertado,
A minha mente aquece-me de memórias,
De recalcamentos sucessivos de tempos passados.
Olho para o pequeno pedaço de pão,
Dado pela menina de vermelho que passou por mim,
E recordo o banquete do meu casamento, onde nada faltou,
E como tudo me falta agora.
O casaco esburacado deixa passar o frio desta noite de outono,
E recordo a bela manta em que me enrolava em casa quando nada tinha para fazer.
Casa?
Já tive uma! Das bem grandes e acolhedoras!
Aquela que chamei um dia de "lar"...
O que é um lar, quando a rua é a minha única casa?
Todos perguntam pela minha família...
Que família tem um vagabundo de rua?
Deitado no lixo, como de estrume me tratasse,
Onde o cheiro afasta qualquer que venha por bem.
Família?
Sei lá onde está ela! Nunca me procurou...
Doutores criei, doente e sozinho me deixaram.
O que antes se dava valor,
Hoje o individualismo e o egoísmo,
Traz-nos a solidão.

Antigamente dava-se a mão ao pobre, hoje pontapés lhes dão!

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